Velozes e Furiosos 5: Operação Rio (Fast Five). EUA, 11.
Direção de Justin Lin.com Vin Diesel, Jordana Brewster, The Rock (Dwayne Johnson), Paul Walker, Ludacris, Tyrese Gibson, Matt Schulze, Sung Kang, Gal Gadot, Joaquim de Almeida, Elsa Pataky. 130 min.
É incrível que no mesmo momento em que a animação Rio está fazendo tanto sucesso aqui e lá fora com uma mensagem positiva celebrando as qualidades do Rio de Janeiro e por extensão de todo o Brasil, nos chegue esse filme de aventura que é a coisa mais ofensiva que eu vi recentemente contra o Brasil, que diz frontalmente que todo mundo no Rio é corrupto (numa cena logo o Rock e chama uma policial como intérprete, Elena, que afirma ser única pessoa em que pode confiar, já que é a única honesta no Rio de Janeiro!
Isso quer dizer o quê? Que todos os outros são bandidos?E assim por diante, só vai piorando. Noutro momento, os agentes americanos tentam prender os ladrões de carros, mas são interrompidos pelo povo brasileiro armado na rua: e Vin Diesel: Isto é o Rio!
Não há atores brasileiros no filme (essa Elena é feita pela espanhola Elsa Pataky, que por acaso na vida real é casada com o ator que faz o Thor), já que nem mesmo a paisagem é brasileira (claro que há inúmeras cenas de passagem do Corcovado, até parece novela da Globo, mas o fato é que a maior parte do filme foi rodado mesmo em Porto Rico, com cara de cucarachos e com nada a ver com a gente!).
Assim a grande perseguição pelas avenidas é feita por lá, aquela outra cena ridícula debaixo do viaduto também não é no Rio. Na verdade, todos os coadjuvantes, com cara de latinos, dizem o texto em português com sotaque carregado! A única brasileira já fazia parte da franquia antes é Jordana Brewster (filha da modelo Maria João, ao menos fala português normal, ainda que pouco). E o chefe do crime no Rio segundo o filme é o português de Portugal, Joaquim de Almeida, que fala com sotaque britânico!
É claro que recentemente teve o escândalo com Stallone, que fez piada infeliz com a gente (menciona macaquinhos, quando se sabe que esse é xingamento favorito dos argentinos contra nós), mas ao menos o filme dele se passava num país imaginário da América Latina e não tinha qualquer pretensão de retratar o Rio ou Angra.
Logicamente esse abuso imperialista que Hollywood faz da paisagem e costumes é uma velha tradição do cinema deles que sempre deformaram tudo, fosse em fita de Mil e uma Noites, sobre nativos americanos (quantos índios foram mal retratados e mesmo ridicularizados!) e mesmo com o Brasil, em especial nos anos 40 quando quiseram fazer a política da boa vontade com a América Latina (única área que não estava em conflito aberto) e começaram a confundir tudo, achando que Buenos Aires era capital do Brasil , samba era rumba e assim por diante. E tudo que foi filme de Carmen Miranda, era uma mexicanizada infernal.
O que é preciso fazer para cair a ficha de que não falamos espanhol aqui, que não usamos sombreros (os filmes de Carmen na sua estreia no Brasil foram muito criticados e mesmo repudiados por isso). O desrespeito inclui aqui licenças poéticas como mostrar um grande assalto de trem num deserto (como se sabe o Brasil é famoso por seus inúmeros desertos!) que parece ter sido feito no próprio EUA!
É tão irritante ver o filme que dá vontade de fazer campanha para que criem o tratado de extradição para evitar histórias como esta, irresponsável e leviana. Não acham nem mesmo que tenham feito por mal, apenas por pura ignorância. Os responsáveis, como bom donos do mundo, falam o que quiserem sem se interessarem pelos que outros povos são e pensam. Por isso mesmo são tão “queridos”!
O diretor é o mesmo que fez antes os Velozes e Furiosos 3 (Desafio em Tóquio) e 4 e como tem a obrigação de ficar inventando perseguições cada vez mais loucas, absurdas e irresponsáveis (desta vez ao menos acharam por bem colocar aviso nos letreiros naquele estilo "não tentem fazer a mesma coisa que nós, tudo foi feito por profissionais” (e com a ajuda de efeitos especiais). E quem ficar até o finalzinho vai ver aparição de Eva Mendes fazendo já uma chamada para o próximo capítulo (que traria de volta Michelle Rodriguez, ausente aqui e dada como morta). Isso com a certeza de que fariam sucesso de bilheteria (no fim de estreia foram quase US$ 90 milhões!).
Faltou fazer um resumo: agora os amigos o ex-policial Paul Walker (Brian Conner) e Vin Diesel (Dominic Toretto) são cunhados porque Paul está com a irmã de Toretto Mia (Jordana). Eles são fugitivos da lei e levam ao pé da letra a ideia de que ladrão que rouba ladrão, então vale tudo. Estão no Rio porque não há tratado de extradição e eles acabam querendo enganar o chefão do crime Reyes (o nome se grafa assim, muito brasileiro não acham?) que trabalha mancomunado com a polícia, tanto que guarda num cofre forte na delegacia deles todo seu dinheiro.
O plano de Dominic é chamar seus amigos do filme anterior incluindo a magra demais, mas charmosa israelense Gal Gadot (de biquíni ela não é páreo para qualquer brasileira) e roubar todo o dinheiro do chefão! De qualquer forma, o cofre sendo arrasado por uma ponte e avenida destruindo muita coisa é uma cena impressionante.
Mas é preciso termos vergonha na cara e não aceitar passivo essa desfeita a honra brasileira. Ao menos rejeitar o filme. Se fosse num país sério, nem teria sido feito.
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