Conheça algumas histórias de pessoas que encontraram nas manifestações artísticas a fórmula para viver melhor e mais feliz
Musicista surda, atrizes e dançarina cegas são artistas que estão cada vez mais presentes na sociedade. Elas comprovam que a arte, além de uma terapia, é ferramenta para a inclusão social, melhora a autoestima e, consequentemente, o quadro clínico de quem tem uma deficiência.
Jucilene Evangelista, 30 anos, conhece bem essa realidade. Deficiente visual desde os cinco, devido a um disparo de espingarda de chumbinho, há um ano ela integra a equipe de atores da Oficina Menestréis, em São Paulo. “Desde menina participo de grupos de arte, seja com dança ou peça de teatro. E, embora seja uma pessoa comunicativa, o teatro contribui muito para minha expressão verbal e corporal”, conta a atriz, que se sente feliz com suas apresentações.
O grupo de teatro Menestréis envolve pessoas com e sem deficiência. “Todos imaginam que uma das maiores dificuldades que temos é na hora da locomoção, mas como participante, posso assegurar que isso não é barreira. Nós nos ajudamos. Quem vê empresta seus olhos, e quem anda faz o mesmo com suas pernas”, explica Jucilene.
Já Gleice Santana, do grupo teatral Nós Cegos, de Minas Gerais, explica: “Nas primeiras aulas, eu tinha medo de andar, de me locomover no palco. Com o desenvolvimento do curso, adquiri uma percepção auditiva muito boa a ponto de perceber a distância entre os atores pelo timbre da voz”.
Diante de limitações físicas, sensoriais ou psicológicas, sentimentos como medo, insegurança e vergonha são comuns. E é nesse momento que a arte pode agir na vida da pessoa e mostrar outra realidade, menos dura, em um mundo mais colorido. “A arte promove a representação de sentimentos, sensibilidade e criatividade de cada um. Este processo pode ser valioso para a pessoa, que se sentindo capaz de criar algo, acredita em si mesma, vivendo melhor e mais feliz”, conta a diretora da Associação de Arteterapia do Estado de São Paulo (AATESP), Maíra Bonafé Sei.
Foi com esse propósito de integrar e promover qualidade de vida e superação para pessoas cegas, que a bailarina e fisioterapeuta Fernanda Bianchini Saad, 32 anos, fundou a Associação de Ballet e Artes para Cegos. O espaço existe há 15 anos e atende voluntariamente deficientes visuais de todas as idades, com aulas de balé clássico, sapateado, dança de salão e curso de violão e canto. “São 60 alunos com idades entre 3 e 60 anos, que aprendem a dançar por meio do toque e da percepção corporal”, conta a idealizadora do espaço.
“O balé tem melhorado a postura, a locomoção, o equilíbrio e a autoestima dessas meninas, além de romper barreiras de preconceitos, muitas vezes presentes devido à deficiência visual”, diz Fernanda, que iniciou este trabalho aos 15 anos, a convite do Instituto de Cegos Padre Chico, em São Paulo. Para se ter ideia dos benefícios da dança, Fernanda conta o caso de uma menina de apenas oito anos, que tem deficiência visual, auditiva, motora e intelectual. “Há dois anos, quando ela iniciou as aulas, vinha no colo da mãe e andava sempre se segurando em algo. Hoje, com a prática do balé, ela já anda na ponta do pé e até corre durante as aulas.”
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