terça-feira, 29 de março de 2011

Confira aqui o texto que o ator escreveu com exclusividade para o site do itatiba em festa

Descobri realmente os musicais durante a minha ida a Londres este ano. Óperas melódicas, dramáticas e populares (melodramáticas, não). No início dos anos 90, quando comecei a viajar para fora do Brasil, assistia aos musicais mais como turista; tinha uma postura e um tipo de pensamento preconceituoso de ator iniciante (paulista) que me fazia não ouvir com bons ouvidos aquilo que hoje me absorve completamente.

Achava o grande lance peça com dois ou três atores, dramaturgia pesada e sangue nas “tempras”. O que o Tom Jobim falou um dia sobre fazer um show sem orquestra, apenas ele e um piano como forma de deixar de ser um menino tímido e protegido, e se “colocar” mais para o público, era a única coisa que eu valorizava. O resto não considerava.

Quanto tempo perdido com idéias que não alimentavam meu espírito, apenas me colocavam num lugar que eu achava dever estar. Acredito sim, claro, nas peças de dois ou três atores, dramaturgia pesada e sangue nas têmporas. Cheguei a fazer e produzir algumas, “Bate outra vez”, “Oeste”, mas se fechar ao “resto” foi uma coisa que me fez adoecer.

Curioso como o preconceito se disfarça de estilo e te confere a um senso crítico apurado. Você passa a ter opinião quando se fecha ao encanto… Hoje, só quero encanto, descobri meu estilo. Ser prazeroso o gostar. E estou ganhando muito por estar aberto a tudo que me faz feliz. Sunset Boulevard, Billy Elliot, Noviça Rebelde, todas as do Andrew*, enfim, esses caras fizeram tanta gente feliz que vão pro céu! Bom, se eles não forem, não sei, acho que eu vou!! Quando conheci meu sogro, seis anos atrás, ele me disse que eu tinha que montar um musical. Não acho que tenho essa capacidade, não do jeito que acharia minimamente aceitável para os meus ouvidos, mas ele e a Karina foram certamente os responsáveis pelo fascínio que sinto hoje pelo gênero! Surrender, o delicioso gozo da entrega, da perda… Meu encanto não é fashion, nunca foi, as flores nunca saíram de moda, afinal! Nem a música. Nem os atores e suas criaturas (im)possíveis.

O que saiu de moda, eu acho, é ter opinião. “Ser” é a palavra de ordem, aquilo que se pode e que nos distrai e constrói. Todos somos heróis em potencial e lindos pela nossa natureza. Autênticos e limpos, aí o bicho começa a acontecer de verdade.

Fabio Assunção, ator, apaixonado por fotografia e pela família, não vê a hora da chegada de sua filha Felipha

* Andrew Lloyd Webber é um compositor e produtor musical britânico, considerado um dos mais renomados compositores teatrais. Produziu quinze musicais, dois filmes, entre outras obras, tendo acumulado ainda um número de honras e prémios, incluindo sete Tony Awards, três Grammy Awards, um Oscar, um International Emmy, seis Olivier Awards, e um Golden Globe Award. Entre suas músicas estão “I Don’t Know How to Love Him” de Jesus Christ Superstar, “Don’t Cry for Me, Argentina”, de Evita, “Memory” de Cats, e “The Music of the Night” de O Fantasma da Ópera.

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